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Exército da Somália ataca com drones o Al-Shabab

As forças de segurança somalis usaram drones no quadro dos violentos combates contra o grupo Al Shabab, perto das aldeias de Jambaluul e Bagdad, a 18 de Março, tendo causado a morte de mais de 30 rebeldes e a vários civis, anunciou, em comunicado, o Ministério da Defesa, citando um conjunto de operações passadas.

08/05/2024  Última atualização 12H50
Autoridades militares confirmam acções conjuntas contra terroristas em Jambaluul © Fotografia por: DR

A directora regional da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral, Tigere Chagutah, citada num comunicado divulgado, ontem, defende que "os Governos da Somália e da Turquia têm de investigar estes ataques mortais como um crime de guerra e pôr fim às agressões imprudentes contra civis”.

Uma fonte do Governo somali negou ataques contra a população nas acções conjuntas contra o terrorismo, confirmando a AI que os membros da Agência Nacional de Inteligência e Segurança pilotam os TB-2 durante as operações. Em 2022 o Painel de Peritos da ONU para a Somália havia informado que a Turquia não transferiu os drones para a Somália, o que teria sido uma violação do embargo de armas. Assim, Ancara opera os próprios drones "na luta contra o terrorismo”, em apoio às forças somalis.

Em 2022,  Ahmed Malim Fiqi, na altura ministro do Interior da Somália e, actualmente, ministro dos Negócios Estrangeiros, afirmou que, enquanto as forças turcas operam os drones, os comandantes somalis fornecem os alvos.

Os investigadores da Amnistia Internacional analisaram imagens de satélite, fotografias, fragmentos de armas e relatórios médicos, combinados com geolocalização dos vídeos do local dos ataques com drones turcos no Aeroporto Internacional de Mogadíscio, determinando o tipo de armas utilizadas nas operações. AI não conseguiu apurar, no entanto, se as forças turcas ou somalis estavam ao comando dos drones TB-2, no momento dos ataques.

Neste sentido, a organização afirmou que devem ser investigados como "crimes de guerra” os dois ataques que mataram 23 civis, durante operações militares na Somália apoiadas por drones turcos, no dia 18 de Março.

De acordo com um comunicado da AI, citado pela Reuters, entre os civis mortos constam 14 crianças, cinco mulheres e quatro homens. Ficaram ainda feridas 17 pessoas, das quais 11 crianças, duas mulheres e quatro homens - nos ataques com bombas planadoras MAM-L, que são lançadas a partir de drones TB-2, de origem turca.

"Na Somália, os civis têm suportado com demasiada frequência o sofrimento da guerra. Estas mortes não podem ser ignoradas. Os sobreviventes e as suas famílias merecem verdade, justiça e reparação”, acrescento o activista. Todas as vítimas dos dois bombardeamentos eram do clã marginalizado Gorgaarte, que pertence à comunidade Jareer, de maior dimensão.

Os ataques atingiram uma quinta a oeste da aldeia de Bagdad, na região de Lower Shabelle.

 

Confrontos resultam em ataques graves

A Amnistia Internacionalsublinha no comunicado "os ataques que não têm em conta a distinção entre objectivos militares e objectos civis são indiscriminados e podem constituir crimes de guerra”. A ONG enviou cartas aos Governos da Somália e da Turquia, pedindo pormenores sobre a operação de 18 de Março, para saber quais as forças militares que controlavam os drones no momento dos ataques, mas não recebeu respostas.

Em resultado da documentação de "múltiplos ataques aéreos” do Comando Africano dos Estados Unidos (AFRICOM) no país, com o custo de vidas de civis somalis, AI também escreveu ao comando norte-americano para saber se as suas forças terão estado envolvidas na operação de 18 de Março, mas não obteve resposta.

"O Governo da Somália tem um longo historial de falta de reparação das vítimas civis de acções militares, ou de procura de reparação junto de actores estrangeiros quando estes estão envolvidos em ataques ilegais”, concluiu a AI.

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