Opinião

Ângelo Vitoriano

Na madrugada um silêncio profundo som se fez

21/04/2024  Última atualização 11H23


As vozes eram gritos escondidos num porvir

Anunciando da vida um novo sopro de revés

Solto entre o desespero e a esperança de a ti ouvir

Entre as chapas do zinco que os tectos des cerram

E as fenestras da madeira da casa coberta

Uma infância de sonhos com vida e incerta

Fez-te refrão nos sorrisos que não se perderam

 

Qual folha solta de mulemba vagueante

Voaste nos mundos que outros trouxeram

Olhando as nuvens em teu céu ambulante

De muitos em teus braços os sonhos cederam

 As acácias de copa espreitando teu altivo olhar

Vergando em teu passo de primoroso cotejo

Suspiraram seus ais por em seu ditoso pejo

Não poderem como tu a mulemba alcançar

 

Tocaste-a pueril nos becos do teu Zangado

Correndo nas berridas que aos outros sofridos

Teu longo passo tornava o vento atrasado

Cerziam nas esquinas mil anseios escondidos

 

E assim sorrias sobre o luando estendido

Da mãe em cujo doce mirar te via muito crescer

Suspirando sonhos que teu sorriso escondido

Aos poucos sorrindo ao dela fez também nascer

 

Ao longe teu nome de porte o teu sonoro

Vibrava nas arenas da urbe que se fez tua

Alardos se cantavam do teu jeito em coro

Qual paixão das gentes no discreto cantar da ndua

 

Dos campos da África tua ao ar de uma bola

Volante ao Mundo em tuas mãos de forte

acertar

Ao vento se fazia ante teu olhar o nome Angola

Nas emoções que aos corações pudeste plantar

 Entre os aplausos de um mundo que alegre te viu

Nascer galgando esquinas e becos sob a mulemba

Nos passos sábios da tua gene de força o semba

O coração, oh Ângelo de todos hoje se partiu

O choro não voa tanto como teu longo salto

As vozes denotando ao longe na estrada se perderam

Mas na alma das mães o choro voeja alto

A dor ferindo âmagos dos que crescer te fizeram

 

NganaNzambi como fica o silêncio infinito

Surripiado monandengue da alma na foz deum grito

Se é calunga nguma que de soslaio a porta bateu (?)

Ngikuatekesseeê… eis que o nosso mundo cedeu

 

Quantos choros no lúgubre folhear hoje retidos

Da mulemba amiga frondosa em cuja sombra

Teu sorriso aberto com outros no tempo fundidos

Ao seu longo encanto penoso agora soçobra

As mulembas da Brigada, ali choram de tanto clamor

 

Nos becos que as almas do bairro desembocam

Soletrando o desespero de te ver partir

Negam-se as chegadas amigo irmão grande a sorrir

Como grande serão os ais que petrificados ficam

 

Não se diz adeus a tua alma gigante meu irmão

Verte-se em silêncio por ti uma nobre canção

Suspirada qual bola que no ar rola em teu olhar

Quiçá as lágrimas como vês os rostos nossos molhar

 

Vemos-te sorrindo para nós como se a dor se

esquecesse

Hoje Ângelo e sempre, Ngana Nzambi

ngikuatekesse

 

Coimbra,17 de Abril de 2024

Manino (Xavier Jorge)

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